contrastes

07-02-2015 19:49

Por Marina Rodrigues

 

Serão os contrastes verdadeiramente contrastes? Ou mais uma invenção da nossa habilidosa imaginação, que ao sentir-se ameaçada pela inevitabilidade da aproximação com aquilo a que chamamos harmonia, tenta a todo o custo e sem escrúpulos de qualquer ordem mostrar-nos que tudo surge dos opostos, dos contrastes que os nossos olhos tão bem sabem identificar!

Mas esta habilidade não é proeza exclusiva da imaginação, nem mesmo nela tem origem, não fosse estarmos nós a falar da mais engenhosa e perfeita obra da criação. A alimentar a imaginação está uma complexa engrenagem construída pelo tempo e pelos tempos que tentam nada deixar ao acaso e que muitos chamam ego… apenas porque nos habituamos a dar nomes a tudo!

Nos contrastes encontramos o conforto temporário e as motivações para mais contrastes identificar e nos identificar. Mundo labiríntico e cheio de portas falsas e janelas sem luz que se abrem a cada novo passo criteriosamente estudado para ir ao encontro do lado certo da ilha… e ele existe? O lado certo? O mais perfeito? Certamente que não, diria eu… tudo depende do olhar, da imaginação daquele que a classifica.

Se de contrastes é feito o mundo e portanto a vida, então algo de íntimo terá com o ser, diria mesmo promiscuo… confusão de sentimentos que se colam ao ser sem serem convidados e que quanto mais apelos fazemos ao ego para que arrume a casa, mais ele nos envolve em delírios e brincadeiras de meninos, tudo para nos afastar do ponto de luz que envergonhado se esconde da confusão.

A culpa afinal é da promiscuidade dos contrastes com o seu ser! Que afinal só é promiscua porque a ela nos habituou o ego que dela se alimenta e dela faz bandeira quando as sombras desfocadas da imaginação não são fiéis ao modelo que a elas deu origem.

E como se um momento apenas não bastasse, e um pequeno raio de luz não fosse suficiente para num simples, mas gloriosos instante perceber que os contrastes são afinal a harmonia, os opostos são a união, os conflitos são a comunhão… ou pelo menos a mais profunda oportunidade do ser para se encontrar, se rever, se entender e se renovar… a cada contraste!

 

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